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  • Foto do escritorBruno Lago

Não, a culpa continua não sendo dos video games!


Dois acontecimentos na semana passada me fizeram escrever esse texto e reafirmar o óbvio: os video games não os culpados pela violência no mundo! Assim como não eram os quadrinhos nos anos 60 quando foi lançado o Comics Code Authority.


O primeiro acontecimento foi um trailer de uma série da Globoplay chamada Os Outros. Extremamente pesada, envolvendo mortes diversas e sendo anunciada como se fosse um jogo de video game. Por mais que os jovens protagonistas joguem um determinado jogo de tiro na série, é algo muito pequeno dentro da trama. Não é algo que impacta diretamente a história e serve mais como algo algo do dia-a-dia dos personagens. Porém um pessoa que assiste esse trailer e depois vai assistir pode interpretar que os acontecimentos violentos da série foram causados pelo jogo de video game.


Porém, o mais grave aconteceu em um documentário na HBO Max sobre o Massacre de Realengo. Por conta da tragédia que foi, esse poderia ter sido um documentário extremamente relevante para o país. Porém, no terceiro episódio, um dos apresentadores traz os video games como sendo um dos culpados por influenciar os responsáveis por essa violência. Para isso, traz diversas informações falsas, entre elas que jogos de tiros ensinariam a pessoa a matar. O que por si só, já seria uma mentira. A maioria das pessoas usa um controle com vários botões que em nada se parece com uma arma de fogo. É verdade que existe a opção de ter um controle que simula uma arma, mas mesmo essa é muito mais simples do que uma de verdade.


Um pouco mais para frente, cita como exemplo o jogo de terror Five Nights at Freddy's que só seria lançado três anos após o massacre, o acusando de ser uma "Disneylândia de aliciadores de crianças" sem trazer qualquer prova. De acordo com a narrativa do documentário, isso aconteceria porque o jogo supostamente atrairia crianças ao mesmo tempo em que fala sobre situações complicadas, por supostamente ser baseado em um massacre. Por isso, supostamente pessoas que falam sobre esse tipo de conteúdo fariam então o elo de conexão entre crianças inocentes e agressores interessados em aliciar crianças.


Toda essa "tese" é baseada em diversas mentiras. Em primeiro lugar, essa não é uma série de jogos infantis. Na verdade, o recomendado é que seja para maiores de 12 anos e dependendo do jogo, para maiores de 14 anos. Ou seja, não é o tipo de jogo para criancinhas, é pelo menos para adolescentes. Segundo ponto, não é um jogo baseado em um massacre. A história da criação do jogo, de acordo com o próprio criador, aconteceu por conta de um erro de desgin dele. Ele criou um simulador de serralheria gerido por um castor pai e um castor filho. O jogo foi extremamente criticado negativamente por seus personagens serem meios feios, parecendo animatrônicos. Aí veio a ideia de fazer um jogo de terror para sobreviver de animatrônicos por cinco noites em uma pizzaria. Surgiu na internet, uma teoria feita por fãs tentando veicular o que acontece no jogo com um massacre em uma das franquias da Chuck N' Chesse que era o restaurante mais famoso por usar esses tipo de entretenimento. O próprio criador já desmentiu essa teoria.


No meio da suposta tese, ele ainda expõe um dos principais criadores de conteúdo brasileiros sobre essa franquia de jogos, colocando um trecho do vídeo dele no documentário. Como o próprio criador de conteúdo fala, fazendo isso sem pedir o direito de imagem e ainda citando nominalmente o canal dele. Esse não é exatamente um post para defender esse canal específico, o foco é nos video games que mais uma vez são atacados e colocados como responsáveis pela violência.


Por isso vou deixar o vídeo com a defesa dele sobre o assunto:




A internet se mobilizou em defesa do criador que foi exposto. O que mostra o grande problema que essa pessoa trouxe nesse documentário. No meio de informações relevantes sobre esses acontecimentos horríveis, é jogado na nossa cara um monte de besteiras e falas extremamente rasas sobre video games que não se esperaria ver em um documentário com o peso do nome HBO. O que poderia ser uma discussão produtiva sobre o que realmente leva os estudantes a cometerem esses crimes bárbaros se transforma em mais um material a reforçar a falsa correlação entre video games e violência.


É claro que têm pessoas mal-intencionadas na internet que podem se aproveitar da inocência das crianças, mas certamente não vai ter terroristas do Estado Islâmico convocando soldados através de um chat de um jogo on-line como o documentário também deu a entender que acontecia. Assim como no mundo real, é muito mais fácil o crime acontecer em um local com poucas pessoas do que em lugar público. E um chat de um jogo on-line ou nos comentários de um vídeo é um local público! Onde tem milhares de pessoas! É mais fácil acontecer em mensagens privadas. Ou seja aquela velha lição de não conversar com estranhos, também vale para os estranhos digitais.


Mesmo assim, é bom que os pais fiquem de olho no que os filhos jogam da melhor maneira possível: jogando junto com eles. Busque jogos que sejam para a idade do seu filho ou filha e se divirta junto. Tem muito jogo bom, muito jogo educativo, inclusive jogos como Undertale que oferecem a possibilidade de você resolver seus problemas conversando, que você não precisa de violência para resolver isso.

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Bruno Lago

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